Andaluzia. Protestos feministas contra o novo governo e a extrema-direita

MBG
3 min readJan 20, 2019

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15 de janeiro de 2019

Mais de 3000 pessoas manifestaram-se esta terça-feira em frente ao Parlamento da Andaluzia contra o novo presidente regional apoiado pela extrema-direita.

O protesto tinha como um dos slogans “Os nossos direitos não se negociam”

O slogan do protesto em Sevilha, convocado por mais de 200 coletivos feministas, é “Nem um passo atrás na igualdade e na diversidade, os nossos direitos não se negociam” — referindo-se à medida que o Vox exigiu nas negociações de apoio ao governo de PP e Ciudadanos, ainda que a medida tenha acabado por não ficar no acordo final alcançado. O partido anti-aborto e anti-imigração exigia a abolição da lei de proteção contra a violência de género.

A manifestação, que ocorreu durante o debate de investidura, teve como principal objetivo apelar à defesa dos direitos das mulheres. A concentração considera estes direitos ameaçados pelo novo presidente, Juan Manuel Moreno, e o novo parlamento, que inclui 12 deputados do partido Vox — o primeiro de extrema-direita a ter lugar num parlamento regional desde o fim da ditadura de Franco, em 1975, e o primeiro num parlamento espanhol desde 1992.

Isabel Brito, membro do Coletivo de Mulheres 24 horas, garantiu que esta foi a primeira de várias manifestações que continuarão a mobilizar regularmente enquanto for preciso.

Apoio inter-regional e internacional

O movimento feminista sairá à rua em toda a Espanha em solidariedade com as manifestantes de Andaluzia e contra o Vox e os partidos políticos que apoiem as suas “imposições”.

Os protestos convocados em mais de 50 cidades espanholas serão o pontapé de saída da “longa história” de “mobilizações constantes, permanentes e insistentes” que as organizações feministas anunciaram.

Madrid, Valencia, Barcelona, Santander, Bilbao, Las Palmas, Badajoz ou Santiago de Compostela são algumas das cidades que se mobilizarão sob a convocatória que exige ao Vox que deixe de enganar os cidadãos.

O manifesto, assinado no passado dia 9 por mais de uma centena de coletivos, assegura ainda que as mulheres não vão “consentir a eliminação” dos seus direitos e que “o movimento feminista é imparável”.

Internacionalmente, já estão convocados protestos em Buenos Aires, Berlim e Paris.

Oposição Feminista

Yolanda Besteiro, presidente da Federação Estatal de Mulheres Progressistas, afirmou que o partido de Santiago Abascal quer “criar confusão, notícias falsas e argumentos falaciosos para descredibilizar os direitos das mulheres e perpetuar a discriminação”.

As várias organizações feministas estão a estudar a hipótese de apresentar uma reclamação contra o partido de extrema-direita por injúrias e calúnia, assim como a solicitação da sua ilegalização por não se adaptar aos princípios constitucionais de igualdade.

Recordam que, historicamente, a cada novo avanço das mulheres produz-se uma resposta vigorosa do patriarcado para o impedir — um ataque a que assistem com “indignação mas não com impotência”.

Uma membro do PSOE de Andaluzia partilhou um vídeo do protesto

As eleições

Os resultados das eleições de 2 de dezembro do ano passado mostraram uma derrota do partido socialista PSOE pela primeira vez na história eleitoral da Andaluzia. O Partido Socialista Espanhol dos Trabalhadores, apesar de ter sido o mais votado, não obteve maioria absoluta, pela primeira vez em 36 anos.

No seguimento, o Partido Popular, o segundo mais votado, negociou com os partidos de direita Ciudadanos e Vox para formar governo, acabando por coligar com o Ciudadanos — coligação que será o governo de Andaluzia e que tem o apoio externo do Vox.

Debate de investidura

Durante a intervenção no Parlamento enquanto futuro presidente, esta terça-feira, Juanma Moreno prometeu tirar a violência machista “da luta política” e fazer “todas as vítimas estarem protegidas”. Em relação à família, afirmou que esta é “o núcleo essencial da nossa sociedade” e garantiu que será a “coluna vertebral”das suas políticas.

De manhã, o líder dos Ciudadanos em Andaluzia e futuro vice-presidente, Juan Marín, tinha confirmado que o Conselho de Família, proposto por Vox, estará incluído no de Saúde e Famílias — utilizando neste caso o termo no plural, por, considera, “haver muitos tipos de famílias”.

O líder da região autónoma espanhola tomará posse enquanto presidente esta sexta-feira.

A Andaluzia é uma das áreas com maior densidade populacional em Espanha, tem uma das maiores taxas de desemprego do país e é o local com mais entrada de migrantes vindos do Mediterrâneo.

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MBG

Journalist and activist for the end of all opressions